INDICAÇÃO SINCERA: ABSORVENDO O TABU
- Nayara Ribeiro
- 7 de jul. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de ago. de 2019
Vencedor do Oscar 2019 na categoria de melhor curta-metragem, ‘Absorvendo o Tabu’, apresenta as diferentes faces da menstruação na Índia: de raiz para um problema estrutural à base para empoderar mulheres.

“Não vamos ao templo durante o período menstrual, nem rezamos a nenhum Deus. O mais velho da casa diz que a reza não é ouvida, não importa o quanto reze.”.
É com essa frase que uma das jovens de Harpur - comunidade rural à 600 km de Délhi, na Índia -, revela o que é compartilhado em família sobre menstruação.
No entanto, se nos templos, deusas como Lakshmi, Sarasvati, Parvati, são adoradas, na terra, Sneha, Rhekha, Shabana e tantas outras mulheres que narram as suas histórias no documentário e em sociedade são ignoradas pela maioria dos homens. O simbolismo por trás da proibição revela mais do que um embargo, indica também o lugar destinado às mulheres na Índia: o de submissão.
Absorvendo o Tabu
Vencedor do Oscar 2019 na categoria de melhor documentário curta-metragem, Absorvendo o Tabu (“Period. End of Sentence.”, título original), mostra que os empecilhos atribuídos à menstruação vão muito além de repressões culturais ou religiosas. O tabu torna a questão um problema estrutural, impactando diretamente na saúde, educação e desenvolvimento das mulheres do país.
Segundo a ONU, cerca de 20% das meninas indianas deixam a escola após ficarem menstruadas. Os absorventes são caros, difíceis de encontrar e quando vendidos, estão em um ambiente dominado por homens, dificultando a liberdade e o acesso das garotas ao produto de higiene. Desta forma, grande parte das mulheres utilizam tecidos, folhas e até cinzas para impedir que o sangue se espalhe, ficando suscetíveis a sérias infecções.
O documentário Absorvendo o Tabu, produção dirigida pela cineasta Rayka Zehtabchi está disponível no serviço de streaming da Netflix e aborda a implementação de uma máquina que produz absorventes biodegradáveis na comunidade rural de Harpur.
Dentro da pequena indústria, instalada no quintal de uma casa, mulheres trabalham em prol do desenvolvimento de um absorvente de melhor custo-benefício, sendo mais eficaz e mais barato do que os disponíveis no mercado indiano. Durante os 26 minutos do documentário, nós conhecemos a história de mulheres que trabalham na fábrica de absorventes e os impactos da menstruação em suas vidas.
E a partir dos depoimentos, nós percebemos que os absorventes biodegradáveis produzidos por esta comunidade feminina, representam mais do que saúde íntima. São também sinônimos de empregabilidade, autoestima, proteção e continuidade nos estudos. Eles revelam ainda a emancipação financeira, exibida em pequenos detalhes, mas de imenso significado: desde a compra de um terno para presentear um irmão, ao sorriso que denota alegria por obter o respeito do cônjuge ao auxiliar nas despesas de casa. O absorvente batizado de ‘Fly’, revela que para a marca, voar não está apenas no nome do produto. “Fly” possibilita de fato o voo das mulheres de Harpur.

A construção da máquina, a implementação da fábrica, a venda dos absorventes de “porta em porta”, o retorno financeiro e a união feminina. Todos estes pontos proporcionados pela oportunidade de emprego que a pequena fábrica trouxe, são transformadores na autoestima das operárias da fábrica. São motores para sonhos e para a coragem de saltar para voos ainda mais altos.
A embalagem dos absorventes Fly estampa uma borboleta que é mais do que simbólica, é efetiva. Pois, Fly possibilita que assim como a lagarta, as meninas de Harpur, também saiam de seus casulos e abram suas asas rumo às transformações. E assim, aos poucos os tabus vão sendo absorvidos, para que a gravidade dos problemas diminua e as mulheres de Harpur possam voar. Permitindo que os sonhos levitem, para que elas conquistem. Conquistem direitos igualitários e, sobretudo, espaço. Espaço para falar e serem ouvidas.
Ouvidas pelos deuses, pelas mulheres, pelos homens e por toda a sociedade.
Sobre o documentário:
Direção: Rayka Zehtabchi
Produção: Melissa Berton; Garrett K. Schiff ; Lisa Taback e Rayka Zehtabchi
Duração: 26 minutos.
Assista ao trailer de Absorvendo o Tabu:
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