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Agora é que são ELAS


Editorial #Seenxerga: Idealizado por Nayara Ribeiro, Foto: Camila Monteiro
Sororidade - Editorial #Seenxerga: Idealizado por Nayara Ribeiro, Foto: Camila Monteiro

“On ne naît pas femme, on devient femme”, em tradução para o português (BR) significa “Não se nasce Mulher, torna-se Mulher”. A célebre frase de autoria de Simone de Beauvoir, um dos maiores símbolos do movimento filosófico, político e feminista do século XX, ainda é atual.

A autora inicia o segundo volume de sua obra ‘O segundo sexo (1949)’ a partir desta citação. E setenta anos depois ainda é nítido o quanto as mulheres são moldadas pela sociedade.


O conceito acerca do feminino é muito mais social do que biológico. ‘Ser Mulher’ implica em diversos padrões, deveres e normas (muitas destas regras, talvez a maioria), traçadas há séculos.


Não é estranho que mesmo com a independência financeira da mulher e a emancipação feminina os brinquedos considerados ‘para meninas’ ainda estejam voltados para o lar e maternidade? Enquanto os brinquedos direcionados aos meninos seguem voltados para tecnologia, esportes, raciocínio lógico e indústria automobilística.


Evoluímos, mas é como se ainda existisse um grito que quer nos convencer de que lar e família devem ser a nossa prioridade. Quero deixar claro que não sou contra brinquedos que estejam relacionados ao lar ou cuidados com os filhos, mas defendo que eles precisam ser incentivados para ambos os gêneros. O que acontece atualmente é uma ideia social de que tarefas domésticas e filhos estão relacionados ao universo feminino, enquanto o futebol, esportes radicais e carros estariam relacionados ao universo masculino. Assim, estereótipos pertencentes ao machismo estrutural são reforçados com imensa naturalidade.



Não podemos dizer que vivemos em uma sociedade onde o pertencimento a determinado gênero é irrelevante, por isso o dia 8 de Março é tão necessário. É uma data para celebrar conquistas, mas principalmente para reforçar nossa luta. Segundo índices da Global Gender Gap Report, levantamento realizado no Fórum Econômico Mundial de 2018, estima-se que o mundo levará mais de 200 anos para reduzir a desigualdade política e econômica existente entre homens e mulheres.


O estudo abrangeu 149 países e avaliou o quão perto estas nações estão de alcançar a igualdade de gêneros. Atualmente, o Brasil ocupa a 95ª posição no ranking. Revelando uma desigualdade de gênero que pode ser observada diariamente em nossa sociedade. Exposta também no levantamento de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cujos dados revelam que no Brasil, mulheres ganham menos do que os homens para desempenhar as mesmas funções, possuindo uma diferença salarial que pode chegar até 53%. Além da desigualdade salarial, o assédio no ambiente de trabalho também é frequente, de acordo com dados da pesquisa “Chega de Fiu Fiu”, do coletivo Olga, 33% das mulheres que responderam ao questionário já ouviram “cantadas” ou tipos de abuso de algum colega de trabalho, cliente da empresa ou de seus superiores.


Assédio que não fica restrito ao ambiente profissional, 99,6% das mulheres já sofreram assédio em espaços públicos, ouvindo frases como “linda” (84% das participantes), “gostosa” (83%), “delícia” (78%). E para deixar claro: tais palavras não são elogios, ainda que no imaginário de muitos homens estes incômodos pareçam gentilezas.


É necessário ter consciência de que o corpo da mulher não é público, ainda que tal ideia seja reforçada pelo machismo estrutural e pela tão frequente objetificação da mulher pela mídia e publicidade. Ainda que constante não podemos considerar assédio normal, seja em menor ou maior intensidade. Pois o assédio ofende, fere e a normalização do ato faz com que as próprias mulheres sintam-se culpadas pela invasão do outro em relação aos seus corpos: questionando suas roupas, rotina e até mesmo atitudes. E é importante ressaltar que o assédio não é culpa da vítima, um ‘shorts tipo Anitta’ ou uma minissaia não são convites, afinal, homens andam o tempo todo sem camisa, utilizando apenas bermuda e são respeitados. Por qual motivo as mulheres não são?




Que neste 8 de Março as comemorações sejam alegres, mas que a gente não se esqueça do tanto que ainda precisamos conquistar. Afinal, ser mulher é muito mais do que ser mãe, esposa, filha, amiga, consumidora[...]. Ser mulher é ser quem você quiser. Por isso, incentive mulheres nos esportes, nas ciências, nas artes, na literatura, na moda, culinária, lar: incentive uma mulher onde ela desejar. Conforme eu sempre ressalto no @gentilsincera e @falasincera: Apoie mulheres e seja você, para você! #SEENXERGA E #SEAMA! Que nenhuma trava te impeça de crescer! Finalizo citando novamente Simone de Beauvoir, onde a pauta é liberdade: liberdade para ser, ir, vir e sentir:


‘Que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser livre. Simone de Beauvoir (1908 – 1986)’.

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