Moda importa? O styling do futuro com Arlindo Grund
- Nayara Ribeiro
- 4 de set. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 31 de out. de 2024

“Não adianta dizer: ‘eu não ligo para moda’; porque você liga! Você pensa no que você vai vestir para uma reunião, para um encontro romântico, para o seu dia a dia. Porque moda comunica: a sua roupa transmite a mensagem que você quer passar.”
É com essa provocação e reflexão que o stylist, apresentador e consultor de imagem Arlindo Grund inicia o Trend Connection 2024; nos levando a repensar a nossa relação com a moda.
Afinal, podemos dizer que não entendemos nada de styling ou figurino , no entanto, antes de eventos importantes escolhemos cuidadosamente a peça que vamos vestir. Porque moda é um meio de expressão e arte, é uma forma de revelar-se para o mundo.

Arlindo ainda destaca que a internet amplificou as necessidades das pessoas no setor têxtil, a pandemia alterou a nossa visão´de estilo e as decisões de compra.
A um clique de distância
Comprar ficou "mais fácil", até quem temia o comércio eletrônico precisou adaptar-se devido a pandemia. Algumas pessoas "perderam o medo" de comprar online e tantas outras encantaram-se com a prática.
De acordo com o estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), em parceria com a Toluna, 61% dos consumidores aumentaram o volume de compras online, sendo que em 46% dos casos, esse número foi superior a 50%.
Agora a peça de desejo está a um clique de distancia, o que nos leva a refletir sobre a forma de consumo no pós-pandemia.
“Você compra do conforto da sua casa. O que a loja precisa para que você a escolha?” questiona Arlindo Grund.
A 'Nova Era' do Fashion
Pensando no novo comportamento de consumo conseguimos evidenciar 3 aspectos essenciais para o futuro da moda: conforto, sustentabilidade e inovação.
Conforto: Com o isolamento social, o aconchego e bem-estar tornaram-se prioridades nas vestimentas. Atualmente não basta ser bonito: precisa ser útil e cômodo. Observamos empresas migrando para o modelo home office, pessoas passando mais tempo em suas casas, o que gera a necessidade de peças versáteis: adequados tanto para reuniões de trabalho quanto para relaxar no sofá.
Modelos apertados e que limitam movimentos saem de cena e entram os feitios que permitem fluidez.
Hoje o consumidor busca por beleza e bem-estar; se a moda não é funcional, ela perde espaço., enfatiza o consultor de estilo.

Sustentabilidade: O segundo pilar é a sustentabilidade, estamos caminhando para uma moda cada vez mais consciente e inclusiva.
É fato que a pandemia aumentou o consumo, principalmente do fast-fashion, no entanto, passado o "boom" de 2020-2022, houve certa desaceleração das compras no setor. De acordo com pesquisa realizada pela Cone Communications, 73% dos millennials e 67% da geração Z estão dispostos a pagar mais por produtos e serviços sustentáveis. Observamos uma crescente preocupação em relação à questões ambientais e sociais: existe inquietação pela moda que pensa em todos os tipos de corpos e também aflige o destino de cada peça.
Consumo Irresponsável
Nos últimos anos tomamos conhecimento de um gigantesco cemitério de roupas no deserto do Atacama: são toneladas de itens descartados pelos Estados Unidos, Europa e Ásia, enviados ao Chile. Roupas que apodrecem sob o intenso sol da região prejudicando o solo e consequentemente a qualidade de vida dos moradores locais. No Brasil, o manifesto “Eu fiz suas roupas", idealizado pelo coletivo Fashion Revolution nos ajuda a refletir sobre a relevância de uma moda participativa, inclusiva, consciente: uma moda que vai além dos números e enxerga pessoas. Sabemos que existem bastidores cruéis por trás de muitas empresas do setor fashion, são diversas as denúncias de condições precárias de trabalho (até mesmo em gigantes da corporação). É por isso que é essencial optar por comprar de empresas que buscam um caminho mais limpo e sustentável para o planeta, bem como indústrias que valorizam as pessoas que fazem moda: desde o designer que idealizou a peça até a pessoa que a confeccionou.
O futuro fashion não visa parar de consumir, mas repensar a maneira como vamos consumir.
Por exemplo: ao invés de comprar 5 peças de baixa qualidade, que vão ser descartadas em meses, opte por comprar 1 peça versátil de alta qualidade que você terá por longos anos. O stylist Arlindo Grund destaca o Upcycling, como uma tendência sustentável e consciente que veio para ficar:
Existe tamanha beleza e eficiência em transformar uma peça que não faz mais sentido em uma nova obra. Alterando a sua função e aumentando assim, o seu tempo de vida no planeta. , enfatiza.
Além do upcycling diversas tendências que visam o consumo consciente estão se fortalecendo, como a moda circular. A cultura de brechós e o aluguel de roupas vem se popularizando entre as gerações mais jovens: o chique é ser minimalista, cosnciente, reutilizar e reciclar. Sendo inclusive, uma possibilidade de acesso à peças de grife para diferentes níveis socio-econômicos: é a oportunidade para muitas pessoas de conquistarem peças autenticas por um valor muito mais acessível.
Inovação: Sem dúvidas o upcycling e a moda circular são exemplos incríveis de como a moda pode se reinventar. Nessa busca por destacar-se em meio à tantas possibilidades de consumo, Arlindo destaca que definitivamente o futuro fashion está na autenticidade, na identidade e no 'efeito UAU'.
“Precisamos trabalhar com a verdade, observar o comportamento do consumidor. Estamos vivendo o surrealismo, queremos o ‘efeito UAU’. Desejamos fugir da realidade.”
Para esse escapismo a aposta do stylist é conquistar o nível sensorial de seu público. A ideia é tornar o ato de comprar um verdadeiro evento. Mas como fazer isso em meio à esfera digital? O especialista destaca que além das boas práticas de atendimento é essencial pensar na diversidade e na personalização: Queremos roupas que nos caibam, tragam conforto, sustentabilidade e inovação. Não queremos apenas consumir, queremos vestir um ideal.
É importante preocupar-se em saber o nome do cliente em potencial, oferecer um café, alguma bebida ou quitutes para tornar o momento não apenas uma visita, mas um evento capaz de melhorar o dia de quem passa por sua loja. , conclui.
Para as fragrâncias e perfumes personalizados que compõem o ambiente, Arlindo orienta buscar receitas caseiras. Uma opção de baixo custo e alta rentabilidade é criar fragrâncias com produtos naturais, o profissional ensina: casca de laranja, álcool e água, os itens que você precisa para perfurmar sua loja sem gastar muito.
O consultor de moda ainda ressalta a relevância do olhar empreendedor para desenvolver pontos de inovação, incentivando o apoio ao comércio local, desenvolvendo parcerias entre lojistas, criando collabs inovadoras. Se a Havaianas uniu-se a Dolce Gabbana para idealizar um produto premium; Farm, Adidas e Flamengo uniram-se para trazer moda, conforto, esporte e paixão; também é tempo de pensar: "Onde eu posso ganhar forças?".
Estamos falando de parcerias que beneficiam todo um ecossistema empreendedor: se o futuro da moda é confortável, acessível, sustentável, diverso, plural e inovador: quais são os caminhos que os empreendedores poderão trilhar?
Finalizo o Trend Connection com uma certeza: o futuro da moda é coletivo e apenas aqueles que sabem abraçar ideias, valorizam os bastidores, dividem o palco e aplaudem em coro é que estarão prontos para confeccionar as roupas e acessórios que vamos ter orgulho de vestir.
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